Burnout, uma tendência ou alerta?
Será que estamos apenas a dar nome a algo que sempre existiu e foi ignorado?
Nos últimos tempos, tornou-se comum ouvir a expressão: “Estou com burnout”. Parece que, de repente, este termo invadiu conversas, redes sociais e até espaços informais como cafés e almoços de família. Mas o que está realmente por trás desse aparente “boom” do burnout? Estamos diante de uma nova moda no vocabulário psicológico ou de um importante alerta sobre a forma como vivemos e trabalhamos?
O que é, afinal, o burnout?
O burnout é uma síndrome reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), associada ao contexto laboral. Caracteriza-se por três dimensões principais: exaustão emocional, distanciamento ou cinismo em relação ao trabalho e uma sensação de ineficácia ou falta de realização. Diferente do simples cansaço, o burnout instala-se de forma persistente, interferindo profundamente na qualidade de vida, nas relações e na saúde mental.
Sempre existiu… mas nem sempre teve nome!
Apesar do conceito ter ganho visibilidade nos últimos anos, os sinais de burnout não são novos. Muitos profissionais, sobretudo em áreas como saúde, educação ou assistência social, relatam histórias de esgotamento físico e emocional que hoje seriam claramente identificadas como burnout, mas que, na época, eram encaradas como “falta de resiliência” ou “fraqueza”.
A diferença é que hoje temos mais acesso à informação, mais abertura para falar sobre saúde mental e uma maior sensibilidade para reconhecer que o sofrimento psíquico não é frescura, é real e precisa de atenção.
Um mundo que exige demais e cuida de menos!
O aumento dos casos de burnout também é um reflexo das exigências crescentes do mundo contemporâneo. Vivemos numa cultura de produtividade constante, hiperconectividade e escasso espaço para pausas reais. A pressão por resultados, a insegurança no trabalho, a falta de fronteiras entre a vida pessoal e profissional e a idealização do “trabalhar até cair” criam o cenário perfeito para o esgotamento.
Ao mesmo tempo, os espaços de escuta, cuidado e suporte psicológico nem sempre acompanham essa pressão. A sociedade valoriza o desempenho, mas muitas vezes negligencia o bem-estar.
É uma moda?
Pode parecer que o burnout é uma tendência, mas isso não é, necessariamente, algo mau. Dar nome a um mal-estar é o primeiro passo para compreendê-lo e, depois, tratá-lo. Falar sobre burnout de forma aberta ajuda a incentivar a procura por ajuda psicológica e promove uma cultura de autocuidado mais saudável e consciente.
E agora?
Reconhecer o burnout como um alerta (e não apenas como uma tendência) implica agir:
a nível individual, promovendo limites saudáveis, descanso e autoconhecimento;
a nível organizacional, criando ambientes de trabalho mais humanos e sustentáveis;
a nível social, valorizando o cuidado com os outros e connosco próprios.
O burnout não é sinal de fraqueza.
É um sinal de que algo precisa mudar.